Como os lugares ganham seus nomes? O que significa perpetuar a memória de um personagem, associando seu nome a um espaço público? Que histórias e silêncios tais gestos revelam?

Essas são algumas das perguntas que guiam o trabalho da artista suíço-haitiana Sasha Huber há mais de uma década. As questões são também o fio condutor da exposição “Nome Próprio” que abre no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, dia 1 de junho de 2019 (sábado).

O interesse da artista pelas políticas da memória se iniciou em 2007, quando passou a integrar o comitê internacional Desmontando Louis Agassiz. Agassiz (1807-1873) foi um cientista suíço, autor de teorias que pautaram a segregação racial na segunda metade do século 19. Embora duramente contestada, sua trajetória científica segue perpetuando o nome de Agassiz em diversos espaços públicos e formações geográficas ao redor do mundo. Entre esses espaços, está o Monte Agassiz (Agassizhorn), nos Alpes suíços, a Praça Agassiz, na região do Méier (Rio de Janeiro), e as Furnas de Agassiz, na região de Itanhangá.

Sasha Huber, Agassiz: A Série Mixed Traces. Tríptico Somatológico de Sasha Huber I
Furnas de Agassiz na Floresta da Tijuca, Rio de Janeiro, 2010. Fotografia encomendada por Calé.

A ligação de Agassiz com o Brasil possui uma longa história. Já nos anos 1860, ele percorreu o Rio de Janeiro e a Amazônia com a Expedição Thayer, fotografando homens e mulheres sob uma perspectiva evolucionista.

Nos Estados Unidos, Agassiz realizou o mesmo tipo de registro para fins supostamente científicos. Entre as imagens resultantes dessa empreitada, está o retrato do congolês escravizado Renty. Hoje pertencente à coleção do Museu Peabody de Harvard, a fotografia foi amplamente reproduzida e é objeto de uma disputa judicial entre a prestigiosa universidade norte-americana e os descendentes de Renty. Ora, “quem deveria resguardar as imagens de pessoas escravizadas?”, pergunta a reportagem do jornal The New York Times (20/03/2019).

Não é por acaso que Sasha Huber toma a imagem de Renty como foco de uma de suas mais audazes performances, realizada em 2008. Na ocasião, a artista subiu o Agassizhorn, a mais de 3 mil mestros de altura, para homenagear o personagem e sua história silenciada, renomeando o monte como Rentyhorn.

Sasha Huber, Rentyhorn, vídeo, 4:30 min, 2008. Fotografia de Siro Micheroli.

“É importante pensarmos como as disputas em torno da memória coletiva vem ocupando o centro do debate político também no Brasil”, afirma Sabrina Moura, curadora da mostra. “Entre os exemplos mais emblemáticos, estão as ações para renomear vias públicas de diversas cidades do mundo em homenagem a Marielle Franco”.

Sasha Huber dialoga com esses gestos e realiza um retrato da parlamentar carioca que será apresentado, pela primeira vez no Rio, como parte da série Shooting Stars. A série é dedicada às vítimas de crimes perpetrados por motivos políticos, étnicos, ideológicos ou econômicos, e inclui ainda os retratos do ambientalista Chico Mendes (1944-1988) e do pedreiro Amarildo Dias de Souza (1966-2013).

A exposição é acompanhada por uma série de programas públicos idealizados por Lorena Vicini. Sob a forma de debates, laboratórios, visitas guiadas e workshops, as atividades expandem os entendimentos sobre história e memória a partir da obra de Sasha Huber, bem como discutem como as camadas narrativas podem ser visibilizadas e questionadas pela arte


NOME PRÓPRIO SASHA HUBER
CENTRO MUNICIPAL DE ARTE HÉLIO OITICICA, RIO DE JANEIRO
PRAÇA TIRADENTES, 68
1 DE JUNHO A 27 DE JULHO DE 2019


CURADORIA SABRINA MOURA
CURADORIA DE PROGRAMAS PÚBLICOS LORENA VICINI


PROGRAMAS PÚBLICOS
Ao longo de todo o mês de junho de 2019, uma série de debates, visitas guiadas e workshops expandem os entendimentos sobre história e memória a partir da obra da artista Sasha Huber.


A EXPOSIÇÃO NOME PRÓPRIO É UM PROJETO DA FUNDAÇÃO PRO HELVETIA NO CONTEXTO DO PROGRAMA “COINCIDÊNCIA – INTERCÂMBIOS CULTURAIS ENTRE SUÍÇA E AMÉRICA DO SUL“, EM PARCERIA COM FRAME CONTEMPORARY ART FINLAND E CAPACETE. OS PROGRAMAS PÚBLICOS TEM O APOIO DO  GOETHE-INSTITUT DO RIO DE JANEIRO.